quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Divã de Martha Medeiros


“Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo.

Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu anti socialismo interno. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e impulsiva . Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos….

Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.

Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também.”

Trecho do livro O Divã de Martha Medeiros

Estranha


A todos trato muito bem
sou cordial, educada, quase sensata,
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
expulsa do paraiso
uma mulher sem juízo, que não se comove
com nada
cruel e refinada
que não merece ir pro céu, uma vilã de novela
mas bela, e até mesmo culta
estranha, com tantos amigos
e amada, bem vestida e respeitada
aqui entre nós
melhor que ser boazinha é não poder ser imitada.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Frágil


Você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora.
Para que o protejam, para que sintam falta.
Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço.
Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável.
Bali, Madagascar, Sumatra.
Escreverá: penso em você.
Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo.
Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.
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Caio Fernando

Intensidade


“Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas. Nunca olho para pessoas inocentes. Quero morder a vida, e ser despedaçada por ela. Mas eu quero mais do que isso. Eu vou para o inferno, para o inferno, para o inferno. Selvagem, selvagem, selvagem.”
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Anais Nin

Abismo


Você chega e eu começo perder o controle da minha solidão, sozinho eu me seguro, mas você chega e eu danço, pois sabe de mil truques para me jogar no abismo...
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Retirado do livro Eu sei que vou te amar de Arnaldo Jabor

Loucura?




E aqueles que estavam dançando, foram julgados insanos, por aqueles que não podiam ouvir a música
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Friedrich Nietzche

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Loucos são os outros.

sábado, 24 de julho de 2010

Eu amo HQs, animes e afins Mas as ilustrações são uma paixão a parte. Gosto desde os de moda, passando pelos artísticos e chegando nos fetichistas. Estas são de Connie Lim, numa linha de cartas de baralhos. Maravilhoso!